Quando vi que o novo filme estrelado pela Natalie Portman (trailler abaixo) era dirigido por Darren Aronofsky, mesmo diretor de Requiem For a Dream, não tive dúvidas: depois de muito tempo minha ida ao cinema era obrigatória.
Darren tem fama de não ter dó nem piedade em sua crueza cinematográfica. Tampouco mede esforços para que seus filmes sejam sempre dignos de serem chamados de arte. Cisne Negro não é, em definitivo, mais um blockbuster. É um filme magistral. Baseando-se em um clássico, já nasceu clássico. Como Requiem For a Dream, não é um filme fácil, mas ao contrário desse, exala uma beleza lírica que não tem tamanho, ainda que essa possa ser absolutamente assustadora. Aviso aos navegantes: não esperem por um maravilhoso balé ao estilo Bolshoi nem por um final palpável ou previsível ao estilo Hollywood. Aqueles não acostumados com o tipo de cinema onde as atuações são mais importantes que as explosões e onde os efeitos especiais vêm somente conferir um brilho maior ao que já é magnífico, saiam correndo. Orçamento curto geralmente é garantia do que realmente importa quando se trata de cinema-arte: a maravilha que pode ser a arte dramática.
Cada cena, cada movimento da atriz, cada ângulo, cada delírio e loucura de Nina em sua busca pelo Cisne Negro que ela deve encontrar dentro de si é embalado por uma fotografia soberba e uma trilha sonora profundamente tocante. Aliás, como esse filme é tocante! Como mexe fundo, como não deixa ninguém indiferente. É um filme que fica na memória, que mexe muito com quem se deixa levar pela história e entra na pele da frágil Nina, acompanhando-a em sua metamorfose de branco a preto.
Um filme sobre o peso da busca pela perfeição. Um filme sobre uma frágil bailarina reprimida, triste, que vive sob os cuidados de uma mãe zelosa e amável, mas igualmente controladora e possessiva. Um filme sobre o desabrochar desastroso de uma mulher aos 28 anos. Um filme tocante, delicado como uma bailarina e assustador como nossos fantasmas, medos, cobranças e frustrações.
Ellen Burstyn perdeu (ainda não se sabe como) o Oscar de Melhor Atriz em Requiem For a Dream para Julia Roberts (podre, inexplicável), desde então não assisti nem mais uma edição do Oscar. Agora Darren emplaca Natalie e seu Cisne Negro, ou Branco-Negro, ou de Branco a Negro. Sei lá. Só sei que essa menina (não consigo não chamá-la de menina!!!) brilhou. E brilhou muito. Há tempos não vejo uma atriz que convença tanto, que se entregue tanto e que consiga uma atuação tão soberba. Para mim tudo nesse filme é perfeito. Aliás, o classificaria como um perfeito filme, perfeitamente dirigido, perfeitamente atuado, com fotografia e trilha perfeitas, tudo perfeitamente assustador numa aterradora história sobre a busca pela perfeição.
E tal como num conclave, depois de anos sem algo que chegue aos pés desse filme, podemos dizer: Habemus Filme !!!
AVE NATALIE !!!